AmazôniaNotícias

Histórias contadas além do olhar

A imprensa é ainda mais essencial em momentos como os que vivemos agora. Mais do que nunca, as pessoas sentem a necessidade de estar informadas e de entender a realidade, por mais difícil que ela possa ser. Para isso, é necessário que os profissionais da comunicação vão às ruas para mostrar o que está acontecendo. 

No desafio diário em busca da notícia, repórteres, fotógrafos e fotojornalistas reafirmam o quão fundamental é a história e a imagem que imortalizam uma ocasião. Com pautas na cabeça, uma câmera na mão e munidos de máscara e álcool gel, eles cumprem o compromisso de ser os olhos do leitor e tem a missão de contar e ilustrar os impactos da pandemia. 

Nos últimos sete meses, o trabalho tem sido ainda mais desgastante e cauteloso. Atuando também na linha de frente, eles se deparam com o desafio de acessar a rotina dos hospitais, cemitérios, além de ouvir e presenciar histórias com fins, muitas vezes, tristes. Conversamos com fotógrafos e fotojornalistas amazonenses que estão na incessante cobertura dos impactos da pandemia de coronavírus em Manaus: em entrevistas exclusivas ao Mercadizar, Alex Pazuello, Lucas Silva, Michael Dantas e Raphael Alves contaram como tem sido seus dias de trabalho, o que mais os marcou e o que têm visto nas ruas da cidade. 

Alex Pazuello, 20 anos de fotojornalismo: “Comecei a fotografar ainda no começo de toda essa pandemia. Sem dúvida alguma é o trabalho mais impactante que já fiz como fotógrafo em 30 anos de profissão. Ver o sofrimento, o desespero das famílias é muito forte, chego até a sonhar algumas vezes… A gente tenta se concentrar, não se envolver emocionalmente e ficar invisível para não ser invasivo, o que é uma das maiores dificuldades. Ainda tem a preocupação de você não levar o vírus para dentro da sua própria casa”. 

“Minhas percepções são sempre as mesmas em qualquer lugar que eu vá em Manaus. Falta de respeito da maior parte da população, que não acredita e insiste em sair de casa, se aglomerar e fazer piadas sobre o vírus e tudo que estamos vivenciando. Isso muda quando você está no cemitério. As imagens do cemitério são, sem dúvida, as mais marcantes!”. 

Lucas Silva, 7 anos de fotojornalismo: “Eu comecei a fotografar a pandemia logo quando surgiram os primeiros casos. Como eu trabalho em jornal, no início da pandemia o que eu procurava fotografar era a mudança no dia a dia das pessoas para suprir a demanda de fotografias para o uso diário no jornal. Logo quando começou a aumentar o número de mortes eu passei a acompanhar os sepultamentos no cemitério. Tudo isso é uma experiência muito triste e intensa. Fotografar esses tempos de pandemia exige muita responsabilidade e profissionalismo. Temos que fazer nosso trabalho sem ser muito invasivo, mesmo que acabe sendo de alguma forma. É preciso respeitar a dor e o espaço da família. Você acaba sentindo a dor deles também. Tem momentos em que você sabe que precisa baixar a câmera e se afastar”.

“A principal dificuldade na cobertura da pandemia é conseguir imagens que sensibilizem, mas que não exponham os familiares. Algumas pessoas abaixam o rosto ou se viram para não aparecerem, mas aí você já entende e para de fotografar aquelas pessoas. Muitas delas estão tão abaladas que não se importam de estarmos fotografando… Eu costumo sempre começar a fotografar mais distante e vou me aproximando, justamente pra sentir a situação e saber como agir naquele momento”.

Michael Dantas, 14 anos de fotojornalismo: “Comecei a cobertura um pouco tarde, dia 21 de abril uma agência Internacional me contratou para fazer fotos no cemitério Nossa Senhora Aparecida, no Tarumã, a imprensa estava proibida de entrar no cemitério nesse dia, consegui fazer uma foto de drone nesse mesmo dia que mostrava os sepultamentos em valas coletivas, 5/6 caixões enfileirados e enterrados ao mesmo tempo. Essa foto foi bastante publicada em vários jornais e sites nacionais e internacionais. O trabalho não tem sido fácil por aqui, estamos sempre perto das pessoas no momento de tristeza… Quem trabalha com fotojornalismo já está acostumado a ver cenas chocantes, é um trabalho psicológico que a gente desenvolve pra estar ali perto de situações difíceis e tentar não absorver as emoções. Sempre respeitando as pessoas que estou fotografando, tento sempre me colocar no lugar dessas pessoas”. 

Raphael Alves, 20 anos de fotojornalismo: “Tem sido um trabalho de fora para dentro em muitos sentidos. Começou durante o distanciamento social e seguiu para a situação em que, infelizmente, estamos. Eu colaboro com agências e periódicos e, fora de casa, aproveitei a cobertura que estava fazendo pra eles. No período em casa, estava fotografando a sensação de estar distante, de estar isolado. Eu sou claustrofóbico e não foi fácil no início. Mas aí vieram as coberturas e vi que a angústia do lado de fora pode ser ainda maior”.

“Pra mim, a fotografia só se completa quando alguém a vê, quando chega às pessoas. Aí eu me pergunto: ‘Como tem sido pra elas? Como tem sido pra mim?’. O que eu quero dizer é que, quando publico as fotos no meu perfil no Instagram, nem coloco legendas porque eu simplesmente não sei o que dizer. Eu estou fotografando as perguntas que faço a mim mesmo e as sensações em busca de um sentido nisso tudo”. 

Olhar de fora

Bem como os profissionais da cidade, repórteres e fotojornalistas de outras localidades passaram por Manaus para relatar o colapso na saúde amazonense. Conversamos com o fotojornalista italiano Tommaso Protti, que esteve em Manaus durante quatro dias para a realização do projeto “Brazil’s Covid-19 Poor”, que documentou os impactos da pandemia do novo coronavírus em comunidades pobres da capital amazonense e de São Paulo (SP), duas das capitais brasileiras com mais óbitos, e lhe rendeu uma bolsa do Reportage Grants, da Getty Images. 

Tommaso Protti, 10 anos de fotojornalismo: “Eu passei apenas quatro dias em Manaus para fazer essa pauta sobre a crise na cidade e a intenção era mostrar a gravidade da situação. Eu fiz uma cobertura geral, acompanhei uma unidade do SAMU, fotografei num cemitério, tive acesso a um hospital de campanha e fui numa comunidade indígena. Eu conheço bem a cidade, estou fazendo um trabalho a longo prazo sobre a Amazônia, e dessa vez foi impactante ver o que está acontecendo. Documentar o vírus foi um trabalho difícil principalmente pelo cuidado que devemos ter com a nossa saúde e com a dignidade das pessoas para não se aproveitar da dor… Infelizmente, o Brasil passou muito a mensagem de que o vírus não era perigoso, então é ainda mais importante mostrar o que está acontecendo, as imagens têm uma função ainda mais importante”.

*Essa e outras matérias da Revista Mercadizar você encontra neste link

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