A união feminina cresceu através de pequenos passos desde o início da humanidade, a partir do momento em que as mulheres entenderam que juntas poderiam mudar suas realidades. O ‘ser mulher’ esteve por muito tempo atrelado à desvalorização. Se opondo à essa concepção, muitas mulheres percebem hoje a importância de dar suporte uma à outra, seja por meio de um simples diálogo ou através de um projeto de apoio.
Instituto Mana
A constante inquietação de quatro advogadas perante ao machismo presente em seus ambientes de trabalho foi o estopim para a ideia do Instituto Mana em meados de 2016. Após observarem que em Manaus a maioria das mulheres não conhecia seus direitos básicos – além de não judicializarem seus casos de violência – Anne Paiva, Fernanda Alexandrino, Keila Martins e Nayana Góes deram vida ao instituto.
Em janeiro de 2017 nasceu o Mana, inicialmente como um clube do livro só com obras feitas por mulheres, buscando dar visibilidade para as escritoras além de incentivar à leitura. Buscando ampliar sua área de atuação, o Instituto lançou também no mesmo ano um canal de comunicação online, onde mulheres de todo o país podiam relatar agressões e tirar dúvidas sobre os mais variados temas do âmbito feminino. O canal recebia mais de 100 perguntas por dia sobre coisas aparentemente “simples”, de direitos básicos à divórcio.
Citando Simone de Beauvoir, Nayana Góes afirma que “numa crise a primeira coisa que é retirada são os direitos de nós, mulheres”. Para Nayana, as mulheres ainda não assimilam o que é delas legalmente. “Se um homem falar ‘você não tem direito a tal coisa’ você acredita nele, mesmo que esteja na Constituição”.
Além do clube do livro, o Mana realiza rodas de conversa e palestras sobre direito e gênero, além de atividades com comunidades para o empoderamento feminino e acesso aos meios de proteção na cidade. Em 2019 o Instituto iniciou também um projeto com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) para a gestão casos de proteção de média e alta complexidade com refugiados imigrantes em Manaus.
Hoje, o Instituto Mana gera renda para mais de 12 pessoas, e o objetivo para o futuro é ampliar isso, além de melhorar a estrutura e levar o clube para todo o interior do Amazonas.
Humaniza Coletivo Feminista
O parto é um momento muito importante para a mulher, algo que vai ser eternizado e lembrado por toda a vida. No entanto, para um grande número de mulheres estas lembranças não são as que elas gostariam de ter. Segundo pesquisa desenvolvida pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc, realizada em 2010, aproximadamente uma em cada quatro mulheres no Brasil sofreu algum tipo de violência durante o parto. A denominação para os maus tratos, abusos e desrespeitos sofridos por essas mulheres é denominado violência obstétrica.
O diálogo claro e aberto é fundamental para que sejam desenvolvidos mecanismos cada vez melhores para a sua prevenção. Em Manaus, a organização não governamental Humaniza Coletivo Feminista propõe o debate que envolve a violência obstétrica e os direitos da mulher. O Humaniza surgiu a partir da reunião de vítimas e de mulheres afetadas pela causa. À época, tudo começou com a denúncia de uma vítima, que, após contato com o promotor de justiça, passou a realizar rodas de conversa sobre parto humanizado e temas relacionados ao nascimento.
Em 2015, elas foram convidadas para abordar a temática numa audiência pública que, para a surpresa das palestrantes, atingiu sua lotação máxima. Depois dali, viram a necessidade da continuidade do trabalho. Posteriormente, migraram para o que chamavam de Movimento da Humanização do Parto Nascimento.
Atualmente, uma das principais frentes de atuação do Humaniza está pautado no parto, sobretudo na violência obstétrica. No entanto, abordam tudo relacionado a infância, juventude e, principalmente, a mulher.
O enfrentamento à violência obstétrica foi um grande desafio, principalmente por ser um tema que vem recebendo a devida atenção apenas nos últimos anos. “Infelizmente existe uma cultura socialmente imposta muito forte de que, no momento do parto, a mulher é secundária e o que importa é o que os profissionais precisam fazer. Trazer essa delicadeza de conscientizar as pessoas vai diretamente no que é cultural e sempre que você mexe em algo que é estrutural, causa muito impacto e é muito difícil”, afirma Alessandrine Silva, assessora de comunicação da Humaniza.
Após anos de luta e apelo, em 2019 entrou em vigor a Lei Estadual n° 4.848/2019, que determina a implantação de medidas contra a violência obstétrica nas redes pública e particular de saúde do Amazonas. A lei define, por exemplo, que qualquer omissão que cause dor desnecessária às mulheres durante o parto é considerada violência obstétrica.
Solidariedade em ação
O Fundo Manaus Solidária foi fundado em maio de 2017 com o objetivo de apoiar, coordenar e realizar ações de promoção social, cultural, educacional e profissional. Elisabeth Valeiko, arquiteta e primeira-dama da cidade, é presidente do Fundo há três anos e trabalha ativamente em prol das questões sociais, fornecendo por meio do projeto atividades com ênfase no empreendedorismo, voltadas ao meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida nos mais diversos aspectos sociais. As ações do Fundo seguem quatro eixos fundamentais: Socorro Social; Atenção Solidária; Mobilização do Bem e Protagonismo Cidadão. Assim, o projeto consegue conhecer melhor a cidade e seus cidadãos.
Nos últimos dois anos, a Prefeitura de Manaus, através do Fundo, fomentou 64 projetos de Organizações da Sociedade Civil (OSCs). No total, foram disponibilizados R$ 11,7 milhões para serem utilizados em projetos nas áreas de qualificação e geração de renda, inclusão social e defesa de direitos humanos. No primeiro edital, lançado em 2018, mais de seis mil pessoas foram beneficiadas.
O programa “Abraço Solidário” – extensão do Fundo Manaus Solidária – teve grande impacto social. Ele concedeu bens materiais à pessoas em situação de vulnerabilidade ou risco social de qualquer natureza e a pessoas acometidas de câncer ou com problemas crônicos de saúde. Com ele, mais de 10 mil pessoas já foram beneficiadas. “Quando você doa uma cadeira de rodas a uma criança sem mobilidade, por exemplo, você está ajudando a criança e a família como um todo, está possibilitando meios para que se tenha ou se busque uma melhor qualidade de vida para todos daquela convivência”, ressalta Elisabeth.
Já a ação “Março Lilás” chamou atenção das mulheres para o autocuidado, combate à violência doméstica, assédio e feminicídio. A iniciativa chamou a atenção para a importância dos exames preventivos, de modo especial o do colo do útero, que é o de maior incidência na nossa região. O Fundo promoveu também uma ação voltada às mulheres em situação de rua, com consultas médicas, testagem para DST’s, educação em saúde e outros serviços.
Hoje, o Fundo promove uma grande mobilização social, principalmente com a arrecadação e doação de donativos. Para Elisabeth, “a bondade, a generosidade e a solidariedade podem ser exercidas de diversas maneiras, basta você encontrar o seu modo. Não há quem não tenha meios de fazer o bem ao outro. Todos podem”.
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