Em média, no Brasil, filmes lançados de forma comercial dirigidos por mulheres representam apenas 15%, de acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine). Além do audiovisual, a fotografia também ainda é um ambiente em maioria masculino.
Para incentivar, dar voz e valorizar o mercado de produção audiovisual e de fotografia feito por mulheres, convidamos 10 mulheres da região Norte, incluindo a Caroline Lins, Nathália Carvalho e Iana Porto que foram as responsáveis pelos ensaios fotográficos da terceira edição da Revista Mercadizar, para compartilhar as suas ideias e experiências sobre as áreas.
Keila Serruya
Formada em Comunicação Social, Keila é produtora audiovisual, artista cultural e artista visual. Keila afirma que, para quem está começando na área, é necessário ter coragem e que se produza audiovisual mesmo que com poucos recursos e equipamentos. Além disso, para ela o audiovisual brasileiro precisa de pessoas múltiplas, mais indígenas, negros e mulheres.
“Eu gosto muito dos trabalhos audiovisuais que vão ser lançados este ano, em 2020, filho novo, novas perspectivas. Primeiro tem o projeto Direito à Memória (@direitoamemoria) que é um projeto transmídia com fotos e lambe lambe, mas o que eu estou mais apaixonada é pelo documentário e pelo curta de ficção. Em seguida, tem o documento de curta-metragem chamado Seo Geraldo – Homem de Reza, Música e Planta, que é um registro de um ser movido pelo seu conhecimento ancestral construído na infância, um homem incrível que faz parte da Bahia mais profunda“.
Suedy Lorenna
Registrando todos os momentos com sua câmera, Suedy, desde pequena é apaixonada por fotografia. Em Boa Vista, capital do estado de Roraima, ela iniciou a faculdade de arquitetura e cursou a faculdade tempo suficiente para se apegar novamente a fotografia. Acredita que o trabalho na área deve ter acima de tudo valorização não apenas do cliente, mas do profissional também.
“As pessoas ainda têm dificuldade de reconhecer a fotografia como uma profissão e não só como hobby. Para ser fotógrafo é necessário um investimento e muitas vezes um investimento alto. Então, fazer as pessoas compreenderem que aquele preço que eu estou cobrando não é somente pelas fotos e sim por toda essa logística é o mais desafiador”.
Angela Premoli
Coordenadora de produção, Angela trabalha na produtora Plano A Filmes há 9 anos. Confidenciou que um dos seus trabalhos favoritos foi realizado para os Postos ATEM, produzido em 10 dias de gravações onde ela e a equipe enfrentaram sol, tempestades no rio e balsas. Ela também pontuou que os baixos orçamentos e a falta de incentivo são algumas das dificuldades de trabalho na região Norte.
“Me inspiram todas as mulheres que lutam para manter o audiovisual vivo. Admiro as mulheres que lutam, que insistem, persistem e não desistem da área. Elas lutam, porque gostam de verdade do que fazem mesmo o audiovisual aqui no Norte sendo um mundo minimalista. Eu, pessoalmente, já trabalhei em centenas de sets em que eu era a única mulher. Mas isso nunca me desanimou nem me fez pensar em desistir. Muito pelo contrário, isso sempre foi visto por mim como um gás a mais. Eu não sou amazonense, mas moro aqui há muito tempo e tenho profunda admiração pela força da mulher do Norte pelo audiovisual”.
Dyne Haacke
A produtora audiovisual da Tempera Filmes, Dyne Haacke diz que sempre foi apaixonada por cinema mas acabou iniciando duas graduações fora do ramo. Ao iniciar um técnico de produção e direção de rádio e TV, ela teve certeza que era aquilo que ela queria para a sua vida. Hoje, Dyne também é formada em publicidade e propaganda e ainda sonha em cursar cinema.
“A cobertura do Passo a Paço feita em 2019 para o Mercadizar e um vídeo produzido para a Prefeitura de Manaus sobre as queimadas são alguns dos meus trabalhos favoritos. Além disso, uma profissional nortista que me inspira é a Saleyna Borges. Ela é uma mulher que merece muito reconhecimento por vencer os vários desafios de administrar o suporte à produção audiovisual no Amazonas tanto na antiga Casa do Cinema, como agora Amazonas Film Commission”.
Lanne Prata
Em Boa Vista, Lanne teve seu primeiro contato com fotografia quando cursava publicidade e propaganda. Em seguida, ela começou a sonhar em atuar como fotógrafa e por isso prestou concurso para Universidade Federal de Roraima (UFRR), no qual foi aprovada. Descobriu ter apego por fotografias de nascimento, que para ela, são as mais emocionantes. Além disso, ela acredita na dedicação para produzir trabalhos de qualidade.
“Se manter no mercado e mostrar que você tem um diferencial são as grandes dificuldades de qualquer empreendedor no Brasil. Na fotografia a gente trabalha com um produto que não é palpável, trabalhamos com a memória das pessoas e não necessariamente com o que a gente entrega. Colocar valor nisso é sempre difícil”.
Andréa Souza
Formada em Filosofia e Administração, Andréa conheceu o universo do audiovisual por acaso. Ela fez uma entrevista para a produtora Sambatango e acabou sendo a primeira funcionária amazonense da empresa, que até então era composta somente por goianos. Andréa fez um curso de Produção Executiva na Academia Internacional de Cinema em São Paulo e viu nele a oportunidade de mostrar a qualidade do trabalho audiovisual feito pelo estado do Amazonas. Além disso, para ela a dedicação é uma peça chave na hora da produção audiovisual.
“Uma dica pra quem tá começando é ser humilde, reconhecer que a produção é um aprendizado eterno, e que sempre vamos precisar de ajuda, ninguém é absoluto”.
Michelle Andrews
Michelle Andrews, produtora audiovisual e integrante do Centro Popular do Audiovisual, conta que a sua formação se deu em 2004 através do festival 1 Minuto, no qual nele era proporcionado capacitações para o público que prestigiava o evento, além de ser também autodidata. Ao mesmo tempo, ela afirma que produzia curtas-metragens, documentários experimentais e vídeo map para espetáculos artísticos de dança e de teatro.
“Uma das maiores dificuldades é a gente passar pelos desmontes das políticas públicas que foram construídas para o fomento do audiovisual brasileiro com falas polêmicas. Passamos por um momento em que as pessoas que estão em poder de decisão criminalizam produções audiovisuais fazendo comentários desnecessários que prejudicam a informação para a população em geral e dando impressões erradas. Falando de Manaus e Amazonas não temos cursos fixos e ensino superior que trata de produção audiovisual e cinema na nossa localidade e isso seria muito importante enquanto região“.
Nay Jinknss
Paraense e formada em Artes Visuais, Nay Jinknss, conheceu a fotografia em sua adolescência quando ainda estava no ensino médio. Apaixonada por fotografar o mercado Ver-o-Peso em Belém e em realizar oficinas em lugares inimagináveis, Nay conta que seus trabalhos favoritos são aqueles em que ela pode criar laços e aprender com as pessoas. Além disso, ela acredita que a fotografia é um instrumento de mudança social.
“É preciso repensar muito sobre quem protagoniza e conta uma história, pois quem conta uma história tá decidindo o que vai ficar registrado. Não podemos ter um olhar restrito. Precisamos de pessoas que fotografem, que dialoguem e conversem sobre diversidade. A gente precisa se fortalecer entre nós mulheres, fotógrafas, pintoras, ilustradoras e nortistas“.
As mulheres da Revista Mercadizar
Caroline Lins
Caroline Lins começou a fotografar em 2012, mas trabalha com ensaios há cerca de sete anos. Em entrevista, ela conta que fotografava muito com telefone, tinha um blog e participava de páginas e comunidades da área. Entre 14 e 16 anos, Caroline passou por uma depressão e ganhou uma câmera e um curso na Foto Nascimento como uma tentativa de tratamento para a doença. Hoje com mais de 170 mil seguidores no Twitter, Caroline faz sucesso na rede social publicando os bastidores das suas fotos e dando dicas de fotografia.
“Fotografia pra mim é como se eu tornasse minha visão de mundo real, por meio de um registro. É a eternização da sensibilidade de captar um momento, um sentimento. É o ato de recortar a realidade e fazer dela algo reflexivo, algo que você possa sentir. Fotografia me faz sentir. Cada foto que eu tiro carrega um pouco de mim, de quem eu sou. E eu sei que um dia eu vou embora desse mundo, mas me conforta muito que a minha arte fica”.
Nathália Carvalho
Amante da fotografia, a profissional conheceu seu amor pela área por acaso. Aos 15 anos, depois de sofrer um acidente, Nathália ganhou uma câmera de presente que a motivou a fotografar cada vez mais. Atualmente Nathalia gosta de trabalhar com ensaio fotográfico de pessoas que já enfrentaram alguma dificuldade, por acreditar que transforma a autoestima de quem é fotografado.
“O mercado audiovisual em si, é um mercado extremamente masculino e as pessoas acham que as mulheres tratam a fotografia como hobbie, então a gente acaba não tendo credibilidade. É como se nunca fosse o suficiente, não importa os diplomas que a gente tem, onde a gente já foi, tudo que a gente já tem, a carreira que a gente tem, só pelo fato de nós sermos mulheres é mais complicado”.
Iana Porto
A fotógrafa Iana Porto sempre se interessou pela área e começou a fotografar com 15 anos quando ganhou de presente dos pais uma câmera semi profissional da Canon. Aos 17 anos, Iana começou a trabalhar com o fotógrafo Cacau Mangabeira, onde ela tratava as fotos e aprendia mais técnicas de fotografia. Formada em design, hoje Iana é proprietária do Estúdio Lumi ao lado do fotógrafo Rodrigo Torii.
“O fato que mais marcou a minha carreira foi quando realmente me dei conta do valor e significado que uma fotografia tem. Acho que por fotografar prioritariamente casamentos e lifestyle você vai vivenciando junto às experiências muito pessoais de cada um. Percebe que o trabalho que você entrega não é só um registro de um momento, é realmente a memória que fica pra sempre. Lembro de ver em um documentário uma pessoa perguntando: “se tivesse algum desastre natural ou se a sua casa pegasse fogo e você pudesse se salvar e levar 1 coisa com você o que seria?” E a resposta pra isso ser: “os álbuns de fotografia, porque lá tem todas as minhas memórias e pessoas queridas que passaram pela minha vida”.
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