Nos últimos anos, o cinema indígena brasileiro tem conquistado espaço e reconhecimento, mostrando que as telas — sejam de cinema, celular ou computador — também podem ser territórios de resistência. A expressão “demarcação de telas”, cunhada por Ailton Krenak, reflete bem essa potência: as imagens são formas de disputar narrativas e reafirmar identidades.
Mais do que registrar tradições, os cineastas indígenas constroem um “cinema de ação”, comprometido com o cotidiano, a luta e a vida de seus povos. Produções como “O Território” e “Somos Guardiões” chegaram a grandes plataformas de streaming, mas há uma diversidade ainda maior de obras disponíveis gratuitamente na internet — de curtas experimentais a documentários premiados.
Pensando nisso, o Mercadizar indica sete produções imperdíveis para mergulhar nesse universo plural e conhecer diferentes olhares sobre a ancestralidade, o meio ambiente e as comunidades originárias.

‘O Território’ (2022) – disponível na Disney+
O documentário acompanha o povo Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, na luta contra invasores e o desmatamento na Amazônia. Com produção executiva de Darren Aronofsky e participação direta dos próprios indígenas nas filmagens, O Território retrata a resistência e a autodefesa da floresta. A obra foi premiada em Sundance e se tornou referência internacional no debate sobre direitos ambientais e autonomia indígena.
‘Somos Guardiões’ (2023) – disponível na Netflix
Produzido por Leonardo DiCaprio, o filme acompanha os Guardiões da Floresta — grupo de vigilantes indígenas que denuncia crimes ambientais e o avanço do garimpo ilegal. Narrado em tom documental, Somos Guardiões expõe os riscos enfrentados por lideranças amazônicas, além de mostrar o elo espiritual e político entre os povos da floresta.
‘A Última Floresta’ (2021) – disponível na Netflix
Premiado internacionalmente, o longa mistura ficção e documentário para retratar a cosmologia Yanomami e a tentativa de manter viva a espiritualidade diante da invasão de garimpeiros. Kopenawa, liderança e xamã Yanomami, traduz em imagens o modo de vida ancestral e o embate entre mundos. É uma experiência sensorial e política sobre a força dos sonhos e a luta pela sobrevivência.
‘Nossos espíritos seguem chegando’ (2021) – disponível no Youtube
O curta acompanha Pará Yxapy, indígena Mbya Guarani, durante a gestação de seu filho em meio à pandemia de Covid-19. O filme reflete sobre ancestralidade, maternidade e espiritualidade, com imagens poéticas e o olhar afetivo da comunidade sobre a continuidade da vida.
‘Teko Haxy – Ser Imperfeita’ (2018) – disponível no Youtube
Um diálogo audiovisual entre duas mulheres — uma indígena e uma artista não indígena — que trocam vídeo-cartas sobre corpo, pertencimento e espiritualidade. A obra é experimental e íntima, explorando a força da escuta e da amizade como forma de resistência.
‘Abdzé Wede’õ – O Vírus Tem Cura?’ (2021) – disponível no Youtube
Realizado em plena pandemia, o documentário retrata a realidade da aldeia Sangradouro, do povo Xavante, uma das mais afetadas pela Covid-19. Narrado em primeira pessoa, o filme é um testemunho da perda, da fé e da força coletiva, além de um registro histórico da resistência cultural Xavante diante do colapso sanitário.
‘Nũhũ yãgmũ yõg hãm: Essa terra é nossa!’ (2020) – disponível no Youtube
Gravado em Minas Gerais, o longa narra, a partir da cosmovisão Maxakali, o conflito entre o modo de vida tradicional e as consequências da exploração branca sobre a terra. Misturando mitologia e denúncia, o filme reafirma o poder da memória oral e dos cantos sagrados como resistência frente à colonização.

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