Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os governos tem a obrigação de combater a violência contra a população LGBT+. Além disso, os relatores da ONU, afirmam que apenas um terço dos países possuem legislação para proteger indivíduos da discriminação por orientação sexual.
Aqui no Brasil, hoje, 13 de junho, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve retomar o julgamento da criminalização da homofobia e transfobia. Iniciado em fevereiro, o julgamento já possui seis votos a favor da criminalização e aguarda o voto de mais cinco ministros.
Buscando valorizar mais a comunidade LGBT+ e mostrar a sua situação no mercado de comunicação nortista, a partir de hoje, o Mercadizar publicará semanalmente entrevistas com profissionais do jornalismo e da publicidade, além de estudantes da comunicação que fazem parte de todas as letras da sigla LGBT+. Confira:
Diego Toledano é formado em jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e, atualmente, é supervisor no site G1 Amazonas e possui uma empresa de comunicação, Lume Criativa, junto com o seu marido. Ao Mercadizar, Diego falou sobre discriminação em ambiente de trabalho:
“A discriminação existe diariamente – seja em um olhar mais demorado nas vestimentas ou em um comentário sussurrado pelo gestual afeminado. O meio jornalístico é extremamente machista e, embora grande parte das redações seja formada por homossexuais, o preconceito é muito presente. Quando uma pauta é mais voltada para o esporte, sempre é presumido que a gente não tem competência para realizar o trabalho – sendo que obviamente aptidões por certas editorias não estão ligadas à orientação sexual.”, afirmou.
Além disso, o jornalista comentou sobre as matérias destinadas à pautas da comunidade e afirmou que matérias como essa ainda possuem pouco espaço no jornalismo da região Norte:
“Eu percebo que existe pouco espaço para esse material em nossa região. Sinto que nossa comunicação ainda é muito engessada porque o preconceito geral ainda é grande. Por exemplo, se você abrir links de portais locais que falem sobre alguma pauta LGBTQ+ (como a criminalização da LGBTfobia), você se vê de frente com o preconceito escancarado e desmedido. “Sacanagem, não pode nem brincar mais”, “isso é mimimi” – e o nosso país é o que mais mata a comunidade LGBTQ+. Então eu sinto que o jornalismo precisa deixar isso tão explícito quanto o preconceito faz questão de ser.”, disse Diego.
O Mercadizar também entrevistou uma produtora executiva de televisão que optou por não se identificar nesta matéria. Em respeito a isso, iremos nos referir a entrevistada como anônima. Ela relatou casos de discriminação que já sofreu dentro do trabalho.
“Em geral a gente acredita que a área de comunicação é feita de gente com um mente aberta, antenada e moderna, mas não. O mercado ainda é muito conservador, feito de modelos a serem seguidos e isso também no quesito comportamental. No meu caso, existia um interesse dos colegas homens de saber se eu já tinha tido relações sexuais com mulheres, tudo isso por conta de um fetiche masculino. Também já aconteceu uma situação mais agressiva, eu já escutei que era bi porque não “fizeram direito” comigo e também que era “modinha” ser bi hoje em dia. O meu primeiro chefe, quando descobriu que eu era bi, teimou dizendo que não. Ele sabia mais de mim do que eu mesma, aparentemente.”, declarou.
A jornalista também comentou sobre a falta de diversidade nos veículos de comunicação e indicou uma revista digital LGBT+.
“Acredito que nem todas as empresas descobriram esse universo com precisão. E necessitam se atualizar, acabam cometendo erros, gafes, até reforçando preconceito, mas tem uma galerinha fazendo valer. Como a revista Híbrida, é um veículo incrível que dá visibilidade de forma responsável!”, disse.
Para o jornalista Bruno Mazieri, editor executivo do Portal D24AM, é necessário também que pessoas LGBT’s que fazem parte do mercado da comunicação, utilizem mais das ferramentas do jornalismo para falar sobre as pautas da comunidade.
“Eu acho que é um assunto que precisa que ser falado, tem que ser debatido amplamente…Para que todo os preconceitos, todos os olhares tortos acabem. E eu falo isso de mim também, eu acho que eu milito pouco tendo uma ferramenta tão importante na mão, mas sempre que posso publico conteúdos e peço ajuda de amigos porque é um assunto que sempre precisa ser debatido.”
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