Na história da propaganda brasileira, dentre alguns acontecimentos importantes, destacamos o surgimento do jornal, rádio, televisão e até mesmo o período controverso da ditadura militar, como peças fundamentais na consagração do Brasil na posição atual de sexto lugar no ranking dos países que mais investem em publicidade, à frente de países como Austrália, Canadá e Coreia de Sul — de acordo com a agência de dados e tecnologia Zenith.
O caminho para esse feito foi longo, a propaganda brasileira inicialmente foi marcada pela oralidade, uma situação que mudou somente no ano de 1908, quando surgiu o primeiro jornal brasileiro “A Gazeta do Rio de Janeiro”, onde as peças publicitárias da época passaram a ser registradas. Segundo pesquisadores da área, esse período pode ser considerado oficialmente o início da publicidade nacional.
Após esse acontecimento, a chegada da rádio e da televisão inauguraram novos cenários e parâmetros para a realização da atividade publicitária, que através desses veículos conseguiu cada vez mais se profissionalizar e alcançar notoriedade. Como plano de fundo dessa época, temos o momento histórico que o Brasil viveu entre os anos de 1964 a 1985, os dolorosos ‘anos de chumbo’. A ditadura militar, apesar de um período de muita censura, foi uma parte da história brasileira em que mais se investiu em propaganda, inclusive, os primeiros orçamentos públicos direcionados a esse setor surgiram nesse contexto.
Para Lula Vieira, no documentário ‘História da Propaganda Brasileira’ produzido pela UNIVERSIDADE ESPM, ele diz: “O jornal no Brasil segue na história como o meio mais importante de comunicação, refletindo exatamente a sociedade, especialmente através dos anúncios.” Desse jeito, não há dúvidas que a propaganda reflete o grau de consciência social de determinados períodos de uma dada sociedade, chegando até ser responsável pelo estabelecimento de parâmetros reguladores dos comportamentos e hábitos da vida.
Fato é: a propaganda cumpre um papel fundamental em estabelecer pensamentos, hábitos e comportamentos que serão absorvidos pela massa popular. Para a publicitária Hilda Ulbrich Schutzer, uma das entrevistadas no documentário da universidade, “A propaganda tem uma função social de educar, ensinar e mostrar.”
Por outro lado, em 2019, a agência de consultoria criativa 65|10 em parceria com o Facebook lançou um estudo sobre o histórico de representação do brasileiro na publicidade nacional. O relatório detectou a presença de 38 estereótipos de gênero, raça, classe, sexualidade e corpos que a publicidade do país ainda hoje perpetua em suas peças e campanhas.
Com isso, o Mercadizar separou quatro grandes propagandas brasileiras que foram responsáveis por consolidar ainda mais os estereótipos que se fazem presente na mente das pessoas até hoje. Inclusive, nas peças publicitárias atuais. Confira abaixo:
Propaganda “Fusca na ditadura” – 1972
Fusca Volkswagen na construção da Transamazônica e o reforço no distanciamento do homem em relação a floresta, retratando-a como um problema ‘selvagem’ e validando sua destruição pelo esforço empregado na construção da estrada. Além de associar a Amazônia ao inferno.
DeMillus “os homens estão perdidos” (1988) – Objetificação da Mulher
A peça fez tanto sucesso que foi veiculada novamente em 1990, ano da Copa do Mundo. Nessa produção, a mulher é apenas um corpo perfeito para tornar um anúncio, uma cena e um produto mais bonitos.
Propaganda Ustop “o mundo trata melhor quem se veste bem” – (1984)
Nessa produção se faz presente o reforço ao preconceito de classe que segrega e determina lugares sociais de acordo com as roupas, geralmente a representação das camadas mais pobres da sociedade desde sempre é hierarquizada na publicidade brasileira, a fim de criar paralelos de comparação entre a elite e o populacho. Em campanhas e peças o estilo visual da ‘classe C’ é sempre duvidoso ou sempre busca por produtos em promoção.
Bombril (Despedida do Garoto Propaganda) – (1981)
A propaganda que chegou a ganhar o Cannes e passou mais tempo veiculada na televisão brasileira reforça o preconceito e a discriminação contra gays. Já que tudo o que representa o macho perfeito é contrário ao feminino, o homem gay é tido como “menor” que os outros. Ele é sempre engraçado e caricaturado, e lhe é negado tudo que é do universo do homem “macho perfeito”.
*O Mercadizar não se responsabiliza pelos comentários postados nas plataformas digitais. Qualquer comentário considerado ofensivo ou que falte com respeito a outras pessoas poderá ser retirado do ar sem prévio aviso.