Sofia Lourenço; 10/12/2024 às 15:50

Artista visual indígena amazonense Kuenan Tikuna participa da 31ª Mostra de Arte da Juventude em Ribeirão Preto

Apresentando uma obra sobre a cosmologia Tikuna, a artista resgata a cultura de seu povo através da arte ancestral com tururi

A artista visual indígena Kuenan Tikuna, natural do Amazonas e pertencente ao povo Tikuna, é uma das selecionadas para a 31ª edição da Mostra de Artes da Juventude (MAJ), promovida pelo Sesc Ribeirão Preto em parceria com o Centro de Comunicação e Artes da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Com sua abertura realizada na última quinta-feira, 5 de dezembro, a exposição estará em cartaz até o dia 8 de junho de 2025.

Imagem: Divulgação

Intitulada “Ngo´ü”, cuja tradução da língua Tikuna, significa visões, a obra selecionada de Kuenan se destaca por sua técnica com pigmentos naturais sobre tela de tururi, tradicional do povo Tikuna. 

“Utilizo a entrecasca sagrada do tururi com pigmentos naturais, uma técnica ancestral e singular do povo Tikuna que aprendi observando minhas anciãs, minhas maiores referências de arte e luta”, destacou a artista.

O trabalho da artista destaca o protagonismo indígena, garantindo que  a história do seu povo seja contada por seus próprios integrantes. Além disso, as cascas de tururi, material essencial para a confecção da obra, possuem um significado espiritual profundo para o povo Tikuna, sendo consideradas sagradas por representarem as vestes dos encantados – parte fundamental da espiritualidade indígena.

Reunindo quatro cosmologias do povo Tikuna, a pintura conta a história de sete irmãos que se transformaram em estrelas (Wücütcha), retrata o ritual de iniciação feminina (Worecü), aborda as entidades protetoras da cultura (Ngecutü gü) e apresenta a dimensão sagrada do povo Tikuna (Eware).

Celebrando 35 anos de existência, a Mostra de Artes da Juventude é  consolidada como uma importante plataforma de visibilidade e incentivo a artistas, de 15 a 30 anos, de todas as regiões do Brasil. Com curadoria de Camila Fontenele e Tiago Gualberto, a 31ª edição reforça a representatividade étnica e regional dos artistas selecionados. 

 

Imagem: Divulgação

Kuenan ressaltou a relevância da Mostra como espaço de resistência e transformação, afirmando que ela “incentiva jovens com uma pluralidade de etnias, gêneros e regiões a expressarem suas vivências através da arte.”

Para o fundador da Manaus Amazônia Galeria de Arte, Carlysson Sena, e representante da artista, estar nesta Mostra de Arte da Juventude é o mesmo que ganhar um prêmio de consagração nacional para uma artista que está trilhando a consolidação de uma carreira. 

“Kuenan é uma jovem e talentosa artista que já possui muito o que mostrar com sua arte e seu ativismo ligado às questões de gênero, cultura, corpos e territórios que são pontos de destaque na poética”, disse.

Sobre a artista

Kuenan Tikuna, nascida no território Tikuna Feijoal, no Amazonas, usa a arte e o ativismo como ferramentas políticas e ancestrais, sob uma visão contemporânea como uma jovem indígena trans. A arte sempre fez parte de sua vida, aprendendo na infância técnicas como o uso de pigmentos naturais e a tela de tururi, elementos centrais em sua obra. Sua arte busca dar voz ao povo indígena, retratando a cultura de maneira autêntica, sem a intermediação de narrativas externas.

A artista participou da 3ª Mostra de Arte Indígena, realizada no Palácio Rio Branco em 2023, e integrou diversas exposições de destaque, como “Bancos Indígenas do Brasil”, que ocupou o pavilhão da Bienal na SP-Arte 2023, e “A Verdade Está no Corpo”, no Paço das Artes, em São Paulo. Também fez parte da exposição digital e interativa “Telas do Orgulho” na SP-Arte, integrando o projeto “Cartografias Visuais para uma Escrita LGBT+”.

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