Uma comunicação violenta é tudo aquilo que usa ou incentiva a raiva, o preconceito e a exclusão. Para a psicóloga Délia Peixoto, experiente em projetos de melhoria do Clima Organizacional e Gerente de RH na empresa multinacional Inventus Power, uma comunicação violenta é rica em julgamentos e pode ter diversos efeitos sobre a sociedade. “Ela pode provocar, brigas, discussões, ofensas mútuas e até mesmo violência física extrema. Empresas e profissionais podem ser processados pela utilização de comunicação violenta com prejuízos à imagem e a marca.”, afirmou.
Já uma comunicação não violenta (CNV) são as “habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas”, de acordo com o livro “Comunicação não-violenta, técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais” do psicólogo Marshall B. Rosenberg, idealizador da teoria.
A comunicação violenta também pode estar presente no jornalismo e na publicidade. Quando uma notícia ou uma campanha, por exemplo, possui julgamentos, preconceitos e altera fatos, o produto está incentivando interpretações diversas que não favorecem o bom uso da comunicação. De acordo com Délia, a partir da CNV é possível entender melhor que os indivíduos possuem opiniões e necessidades diferentes. “Na mídia, a noção de responsabilidade no compartilhamento e tratativa de informações deve ser um elemento fundamental para uma conduta ética e respaldada.”
Essa violência pode provocar prejuízos diretos ou indiretos com quem tiver contato com ela. Foi o que afirmou em entrevista ao Mercadizar, Gabriel Andrade, designer e integrante do coletivo Cumbuca, grupo que busca produzir contranarrativas ao discurso de ódio na internet.
“Toda vez que uma peça publicitária em Manaus, por exemplo, não inclui pessoas negras, isso é uma violência. A publicidade é violenta quando ela não representa a maioria das pessoas que vivem na cidade, querendo instaurar um padrão de beleza branco e europeu. Por que continuar colocando pessoas brancas como o rosto de uma marca que tem um alcance muito grande na cidade?”, questionou Gabriel.
Pensando na CNV como uma aliada no relacionamento entre empresas e clientes, veja abaixo ferramentas que irão possibilitar a criação de uma comunicação com menos preconceitos:
Banco de imagens LGBT ‘Tem que ter’
“Tem que ter” é o primeiro banco de imagens focado na comunidade LGBTQI+. Realizado pelo coletivo Viva voz, em parceria com a Casa Moa e a Safernet, o banco é uma plataforma colaborativa e possui fotos com tema de casamentos, graffiti, trabalho e muito mais. Tudo disponível de forma gratuita para que você inclua imagens de pessoas da comunidade LGBT sem estereótipos.
Você, jornalista, já parou para analisar os seus entrevistados e fontes? Sempre fique atento e inclua pessoas negras não somente em pautas voltadas para questões raciais.
Pensando nisso, em 2018, a jornalista Cecília Oliveira e o site The Intercept Brasil publicaram a matéria “Uma lista para 365 dias de consciência negra”. O texto inclui um documento com 138 nomes de especialistas de diversas áreas como, por exemplo, comunicação, direito, moda e medicina. Ao lado de cada nome é possível encontrar a área, formação e a cidade ou estado que a pessoa reside. A proposta é que os jornalistas busquem incluir novas narrativas em sua reportagem.
O “Manual de comunicação LGBTI” tem o objetivo de apresentar para os veículos de comunicação e agências de publicidade e marketing, quais termos e comportamentos devem ser utilizados quando se referirem a comunidade, além de propor pautas do movimento LGBT e explicar o significado de símbolos e bandeiras.
Nele é possível compreender a diferença de sexualidade e gênero, sexo biológico e intersexualidade, entre outros. O manual foi desenvolvido pela Aliança Nacional LGBTI, o Grupo Dignidade e a rede GayLatino.
Linguagem não sexista na publicidade
A publicitária Gabriela Rodrigues, creative data manager da SOKO, criou o guia “Linguagem não sexista na publicidade”. De forma didática, o guia apresenta dicas de como ter uma linguagem mais neutra. Em entrevista ao site ADNEWS, Gabriela disse: “(…) Muito do comportamento sexista é justificado como sendo culpa da língua, então é importante que as pessoas saibam que essa justificativa não é válida, porque nossa língua é cheia de possibilidades não sexistas também. O valor de compartilhar um pouco do que li e percebi é de mostrar essa verdade e tentar mudar um pouco tanto essa prática quanto, quem sabe, mudar a forma como pensamos a longo prazo.” , disse.
Segundo Marshall, a comunicação não violenta “começa por assumir que somos todos compassivos por natureza e que estratégias violentas – se verbais ou físicas – são aprendidas, ensinadas e apoiadas pela cultura dominante”, por isso, não deixe de praticar a CNV e compartilhe as ferramentas citadas acima para os colegas de redação ou agência, e ajude na produção de um jornalismo e de uma publicidade com menos preconceitos!
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