Hilana Rodrigues; 18/08/2021 às 16:30

Cantor A Black Z fala sobre carreira e rebate comentários preconceituosos

Recentemente o cantor, que busca causar representatividade e consciência política, recebeu ataques virtuais na divulgação de em um de seus videoclipes

O cantor A Black Z vem ganhando destaque na Amazônia com suas músicas e videoclipes que retratam, não só o artista regional, mas pautam os movimentos sociais e a cultura local.

Nascido e criado na periferia de Porto Velho, Rondônia, o cantor lançou, no fim do primeiro semestre, o primeiro álbum profissional, que conta com dois videoclipes, ambos pelo Edital n° 77/2020, da Lei Aldir Blanc.

Em entrevista ao portal Mercadizar, A Black Z diz se tratar do primeiro projeto musical solo, do qual toda a produção lhe deixa muito animado com os resultados. “É uma surpresa, ainda mais para alguém que tem pouca visibilidade aqui nesse mercado fonográfico de Rondônia, alcançar essas visualizações”, comenta o artista.

Os dois clipes lançados, “Futuro” e “Pachamama”, abusam do conceito visual e estético que, segundo o cantor, estão dentro do que propõe no movimento negro, LGBTQIA+ e da Amazônia.

Juntos, os clipes somam mais de 238 mil visualizações no canal de Youtube do cantor, que informa ainda causar surpresa em pessoas que assistem e não imaginam o potencial que artistas do norte possuem.

“E a primeira vez na vida que eu lanço um videoclipe dessa magnitude e as pessoas perguntam ‘nossa vocês são de Rondônia? É uma produção tão elaborada’, e mal elas sabem que a gente usa tão pouco orçamento para fazer algo tão grande assim”, afirma.

Ideais políticos e ambientais

Ao perguntar os ideais com as letras das canções e cenografia dos clipes, A Black Z dá um show de consciência ao informar que o primeiro ideal dos seus clipes é abordar um despertamento político.

“No clipe ‘Futuro’ a gente fala muito sobre a utopia do preconceito, que essa utopia de um país sem preconceito uma hora chegue para nós, um país onde a gente consiga viver, andar na rua como pessoas comuns e não como estranhas só por causa da orientação sexual, gênero e raça”.

Já sobre a estética onde a flora Amazônica se faz fortemente presente, o porto-velhense informa que é não só pelo visual, mas também para falar sobre o ecocídio e propor consciência com tudo que fazemos com o mundo, principalmente com a Amazônia.

Outro ponto é para dar voz a cultura e artistas da região, que muitas vezes são invisibilizados pelo resto do país, assim como, em alguns casos, pelo público local.

“Eu sou um artista de Rondônia, que tem toda a parte Amazônia e as pessoas precisam conhecer os talentos que tem aqui, que na Amazônia a gente produz muita coisa boa e maravilhosa. Quando mostramos a fauna e flora nos clipes, a gente quer mostrar para o mundo que as pessoas precisam cuidar disso”.

Ataques virtuais

Recentemente, após lançar o teaser do videoclipe “Pachamama” no Facebook, A Black Z recebeu diversos comentários maldosos e preconceituosos. Segundo ele, este já é o terceiro desde que começou a carreira.

Num primeiro momento, pediu para o produtor responder ou bloquear as mensagens maldosas, porém, notou que o ataque tomou grandes proporções ao receber a destilação de ódio em seu número pessoal de WhatsApp e inbox das redes sociais.

“São pessoas que gastam o tempo delas para ter prazer de ver alguém incomodado ou sofrendo porque está sendo atacado. O objetivo dessas pessoas é ver os artistas sofrer, querendo cometer suicídio ou entrando em depressão por causa de tantos ataques massivos”, lamenta.

Até então, o artista havia escolhido não ver os comentários. “Lidar com isso é às vezes escolher não ver pra conseguir ter uma saúde mental”. Mas os ataques cresceram tanto que, como resposta, produziu e divulgou um vídeo, dividido em duas partes, em seu perfil de Instagram para expor e alertar sobre os perigos dos ataques virtuais.

 

 
 
 
 
 
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Sentindo a necessidade de falar sobre o infeliz caso, o nortista informa que os comentários, que tinham o intuito de machucá-lo, não irão atingi-lo e que se faz mais forte para mostrar cada vez mais a voz, rosto e cultura local.

“Comigo não vai ser assim porque eu tenho apoio terapêutico, tenho psicólogo que me ajuda toda semana, apoio de amigos e meu produtor me ajuda bastante também”.

Visibilidade para cultura e movimentos sociais nortista

A Black Z reconhece dentro da visibilidade que possui uma forma de promover destaque, por meio da cultura, aos movimentos sociais dos quais participa, pois, além de artista do norte, também é um homem gay e negro. “Eu acarreto várias minorias, mas nós não somos minorias, somos minorizados”. 

“Imagine, um homem gay de tranças andando na rua mostrando sua música preta para as pessoas. Nem todo mundo acolhe isso, muitas vezes recebo olhares estranhos de pessoas que não gostam, que falam com palavras ou demonstram com o olhar”, complementa o cantor.

Porém, certamente o cantor se mantém de cabeça erguida para encarar essas adversidades que aparecem ao ser uma pessoa incluída em diversas pautas minorizadas pela sociedade.

“Hoje eu participo de movimentos do meio LGBTQIA+, artístico e movimento negro, que mesmo sendo alvo, a gente consegue se proteger. Ainda mais na pandemia onde corremos o risco de passar fome devido ao preconceito e falta de verba no meio artístico. É difícil conseguir editais para cá, então o artista precisa matar uns cinco leões por dia”, comenta.

A Black Z finaliza dizendo que uma das principais metas como artistas é conseguir viver totalmente da arte que explana pela terra brasileira.

“Acredito que minha maior meta seja as pessoas conhecerem e se identificarem com meu trabalho, propondo representatividade como negro e homoafetivo. Que traz essa força na voz, no cabelo, pele e no jeito de se portar”, afirma o cantor.

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