Neste último sábado, 23, Gabriel Fernandes de Souza Antunes ou comumente conhecido pelo vulgo artístico de Nescall, lançou o seu primeiro projeto audiovisual solo, intitulado Castelo de Areia. Nos últimos anos, o artista vem se destacando na cena do Hip Hop manauara pelos versos críticos e criativos.
Em suas rimas, o mc narra a realidade de muitos jovens negros de periferia, cujo o cotidiano é atravessado pelo racismo estrutural, que fundamenta as relações entre eles e grupos de amigos, que por vezes distantes de suas realidades e formados por indivíduos socialmente lidos como brancos, acabam evidenciando o lugar que o menino preto de favela representa para essas pessoas. Dessa forma, a mensagem é clara, pelo o que essas relações podem oferecer, e os espaços que elas podem permiti-los acessar, muitos jovens negros acabam se deslumbrando, no entanto, o racismo presente em nossa sociedade impõe hierarquias sociais e de tratamento, ainda que não sejam explicitas, se fazem presentes, é como revela Castelo de Areia.
A sensibilidade de Gabriel, que nasceu e cresceu na Marreca, uma das comunidades de Manaus, localizada na zona centro-sul da cidade, e dominada pelo tráfico de drogas, se une à sua necessidade de denunciar, ao mesmo tempo que apresenta uma mensagem de cuidado e afeto que ele deseja passar para a juventude que vive em contextos semelhantes ao dele. Em entrevista exclusiva ao Mercadizar, o artista, nos contou que a música é inspirada nas circunstâncias da sua vida e que pode ter muitas interpretações.
“Castelo de Areia é uma música que você pode absorver ela de muitas formas, é a história de um rapaz humilde, que deixa de lado os amigos e o que importa, por que se deslumbrou com um outro mundo, fora da sua realidade, e ficou cegou com isso, não percebeu que esses novos amigos não estavam por ele, só queriam o que ele tinha pra oferecer, que era se arriscar indo fazer o corres de drogas, até o momento em que ele é preso e vê que sempre esteve sozinho. Mas também, ela pode ser relacionada com a vida no crime que você entra vendo uma saída, mas uma hora o castelo desaba; com as drogas, que também é a mesma visão, até mesmo uma reflexão pra você olhar ao seu redor, e pensar sobre as pessoas que estão ao seu lado, se essas pessoas correm mesmo por você, se querem seu bem.” disse Gabriel Nescall, ao Mercadizar.
Para Samuel Messias, protagonista no curta, a música pode ser interpretada como “a realidade que nós vemos diariamente escancarada, pessoas do nosso convívio também merecem viver bem e terem coisas boas, mas muitas vezes isso não vale a pena e elas acabam abrindo mão das pessoas que realmente se importam com elas, das suas próprias escolhas e até mesmo da liberdade em busca desse sonho, que na real pode acabar virando pesadelo.”
Assista abaixo, Castelo de Areia:
Segundo o Mc, o público pode esperar muitas novidades de um Gabriel Nescall que ainda não foi visto.
“Eu amo a música em geral, gosto de testar minha escrita e voz, tenho muitos projetos que vão além de rap e funk, então esse ano tem muita novidade, tenho músicas que estavam guardadas e esse ano quero lançar todas e já estou planejando um álbum.”
Saiba mais sobre Nescall:
Nascido e criado na Marreca, comunidade localizada na zona centro-sul de Manaus, escolheu a música para fugir de uma infância cercada pelo crime, drogas e abuso policial, encontrando no funk e no rap uma forma de desabafo e protesto contra todo preconceito, desigualdade e racismo.
Mc desde 2012, o interesse pelas batidas de rap e a rima surgiu após um falecido amigo o presentear com dois Dvd’s: ‘1000 trutas 1000 tretas do Racionais Mc’s’ e o filme ‘Fique rico ou morra tentando’, a história de vida do rapper 50 Cent.
“As pessoas falam muito que o caminho errado não é alternativa, mas de onde eu vim sempre foi, a gente vira homem cedo. Me diz como um menino de 13 anos, vendo o pai que é o único provedor da casa, desempregado e doente,a geladeira vazia e sua mãe com fome, consegue ir pra aula e estudar como se tudo estivesse às mil maravilhas, não dá. Quando eu vi esse dvd do Racionais, eu fiquei calado do começo ao fim, ouvi tudo e parecia que Deus estava falando comigo, me dando mil conselhos. Pensei, “quanta gente nesse show”; “caramba, olha as roupas dos caras, as correntes, eles devem viver muito bem”. E desde esse dia eu quis ser mc, eles cantavam tudo o que eu vivia, então eu acreditei que podia cantar também, quem sabe conseguir fazer sucesso, dá uma vida melhor pra minha família e foi assim que o hip hop salvou minha vida.” afirmou Gabriel.
Perguntado sobre como é fazer rap no Norte, o artista respondeu:
“Eu acho os mc ‘s do Norte muito fortes, a gente sempre fez o máximo com o mínimo de estrutura, não tem como alguém dizer que não existe amor envolvido. Nunca rolou fama, nem grana e nem visualizações, são 9 anos de corre que sempre tive que trabalhar pra poder conseguir lançar um som. Manaus ainda é muito carente de estúdios e audiovisual, gravar uma faixa e um clipe sai muito caro pra quem ganha um salário mínimo, mora alugado e tem filho. Quero, inclusive, agradecer à Vitória Lopes pela gravação do clipe e ao Gabriel Benevides pela edição.”
Acompanhe o trabalho de Gabriel Nescall nas redes sociais:
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