A frase de Ailton Krenak, “A minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim”, ressoa como um convite à reflexão sobre o poder das narrativas. Krenak sugere que as histórias não apenas nos conectam, mas têm a capacidade de resistir ao colapso, mantendo viva a nossa cultura e identidade. É com esse espírito de resistência e transformação que, em julho de 2023, o publicitário Victor Israel fundou a Vem do Norte, a primeira agência de criadores de conteúdo da região Norte do Brasil.
A proposta da Vem do Norte vai além da publicidade tradicional: é uma plataforma que busca dar voz às pessoas da Amazônia, ampliando as histórias e experiências locais, de forma a gerar um impacto positivo nas comunidades e fortalecer identidades regionais. Para Victor, “contar histórias é dar visibilidade às trajetórias locais, permitindo que as pessoas se sintam representadas e ouvidas.”
Junto a Camila Diniz, Luiz Neto e André Buiati, sócios que compõem a equipe, Victor trabalha para transformar essa agência em um hub que não só conecta criadores de conteúdo da região, mas também propaga causas essenciais para a Amazônia, como a sustentabilidade e a preservação ambiental.
“Proteger o território onde vivemos e levar as vozes da Amazônia para espaços que ainda são dominados por uma visão de fora é o nosso objetivo,” explicou Victor, destacando que a agência é uma ferramenta para dar protagonismo à cultura nortista, combatendo a invisibilidade histórica da região nas grandes campanhas publicitárias.
Em um mercado publicitário que ainda engatinha em termos de representatividade da Amazônia, a Vem do Norte propõe uma nova forma de fazer publicidade, focada no empoderamento local. A agência já conta com 20 criadores de conteúdo que têm o objetivo de criar uma rede colaborativa e representativa, conectando artistas, influenciadores e ativistas para dar visibilidade ao que é produzido e vivido na região.
“Nosso trabalho é ajudar esses criadores a amplificar suas histórias, oferecendo o suporte necessário para que suas narrativas ganhem alcance e impacto,” afirmou Victor.
Ativismo
Victor Israel não é apenas um empresário, mas também um ativista. A sua trajetória de engajamento social começou na infância, quando arrecadava cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade. No entanto, foi durante a segunda onda de Covid-19, em 2021, que ele se destacou por meio do projeto “Respira Amazonas”, criado para ajudar na crise de oxigênio que o estado enfrentava.
“Minha mãe precisou de balas de oxigênio quando contraiu Covid-19, e essa experiência me impulsionou a ajudar. O projeto foi uma forma de usar minha voz e as minhas redes sociais para fazer a diferença,” relembrou Victor.
Além disso, a Vem do Norte se envolveu com o projeto Amazônia de Pé no Dia da Amazônia de 2023, uma ação coletiva que uniu criadores de conteúdo para chamar atenção para questões climáticas e para a falta de visibilidade das pautas nortistas nas discussões nacionais.
“É importante que o Norte seja representado por quem realmente conhece a região. O que queremos é garantir que as histórias de quem vive aqui sejam ouvidas,” afirmou.
Desafios e invisibilidade
“A questão da mudança climática, que já é uma pauta em evidência há anos, com secas extremas, queimadas e desmatamento, chamando atenção para a Amazônia. Mesmo assim, ainda não temos a notoriedade que deveríamos”, explicou o paraense André Buiati, 34, sócio da Vem do Norte, que destaca as dificuldades amplas na comunicação sobre o Norte.
Quando o assunto é o mercado publicitário, André é categórico: as marcas do eixo Sul-Sudeste não demonstram interesse em se informar ou em procurar construir narrativas que realmente sejam contadas por nortistas.
“Essa invisibilização vai além do desinteresse; é sobre não saber. Quando não sabem, não existe porta de entrada para mostrarmos o trabalho incrível que esses influenciadores fazem.”
Mesmo diante de tantas adversidades, a Vem do Norte desenvolve estratégias para dar mais visibilidade, voz e vez aos amazônidas. A agência marcou presença no Climate Week, em Nova York, mesmo sem o apoio de patrocinadores nacionais.
“Fomos viabilizados por marcas locais e levamos influenciadores como Victor, Marciele e Pavulagem. Ver a Marciele no palco de um evento mundial foi um momento em que percebemos que estávamos no caminho certo. Essa experiência reafirmou a importância de manter nosso propósito: fazer com que grandes marcas compreendam a relevância da Amazônia e invistam aqui, movimentando não apenas o ecossistema criativo, mas toda a economia local”, concluiu André.
Marciele Albuquerque é uma das criadoras de conteúdo que fazem parte do portfólio da Vem do Norte, ao lado de Maickson Serrão, conhecido como Pavulagem. Além deles, a agência conta com outros 18 creators. Juntos, considerando a publicação de um Reels por cada um, o alcance total do conteúdo chega a 10.025.100 pessoas impactadas.
Puxirum
Além de suas ações de visibilidade, a Vem do Norte também investe no fortalecimento da rede de criadores de conteúdo local por meio de iniciativas como o Puxirum – Pertencimento. O evento, que reuniu influenciadores de Manaus, Belém e Parintins, foi uma imersão focada em troca de experiências e capacitação, com o objetivo de consolidar as carreiras dos criadores de conteúdo e fortalecer o ecossistema criativo da região.
Camila Diniz, sócia da agência, explicou: “A ideia era unir esses criadores para criar uma rede de apoio e colaboração, permitindo que eles compartilhassem conhecimentos e crescessem juntos.”
A COP30
Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorrerá em 2025 em Belém, no Pará, representa uma oportunidade única para colocar a Amazônia no centro das discussões globais sobre mudanças climáticas, biodiversidade e desenvolvimento sustentável. No entanto, mais do que apenas participar desse cenário, é fundamental que os nortistas sejam os protagonistas dessa trajetória.
Com esse objetivo, a Vem do Norte criou uma série de ações estratégicas para fortalecer o papel dos criadores de conteúdo da região, potencializando suas vozes e narrativas no cenário da COP30. Como explica Victor, a agência também está iniciando parcerias com marcas de grande porte, como a Meta, para fortalecer essa mobilização.
“Mesmo com ações de grandes empresas independentes, a agência estará presente como porta-voz desses movimentos, utilizando a força da comunicação e influência para ampliar os diálogos e impactos do evento. Usar a ferramenta que cada influenciador tem na palma da mão para dar visibilidade a essas ações e conectar realidades é fundamental,” explicou.
Por meio de narrativas autênticas e experiências locais, esses influenciadores têm o poder de destacar desafios e soluções específicos da região, evidenciando relatos de resistência, preservação ambiental e saberes ancestrais.
“Queremos ser referência desde o início, para que o protagonismo seja nosso e que não cheguem apenas equipes externas para ocupar esses espaços. Temos muitos nortistas talentosos, prontos para liderar esses momentos,” concluiu Victor.
Além da COP30, outros eventos importantes como o Festival Folclórico de Parintins e o Global Citizen farão parte desse calendário estratégico. Esses marcos exigem planejamento antecipado e representam grandes oportunidades para destacar a Amazônia e seu protagonismo no cenário global.
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