
Os saberes, tradições e legados de mulheres indígenas na produção de artesanato ganham protagonismo no Festival Folclórico de Parintins 2025, por meio da nova toada do Boi-Bumbá Garantido, intitulada “Artesãs Indígenas”, do álbum “Boi do povo, boi do povão”. A toada celebra o trabalho manual como forma de resistência e afirmação cultural e já ultrapassa 60 mil visualizações no YouTube. Os compositores Geandro Matos, Ulisses Rodrigues, José Carlos e Wanderson Rodrigues assinam a música.
Quatro das associações citadas integram o projeto “Parentas que Fazem”, iniciativa que fortalece organizações de mulheres indígenas do Amazonas ligadas à sociobioeconomia. A primeira fase do projeto, finalizada em dezembro de 2024, capacitou 374 mulheres de diversos povos indígenas.
As instituições citadas na música são: Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – Numiã Kura, também conhecida como AMARN, Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira (ASSAI), Associação das Mulheres Indígenas do Médio Solimões e Afluentes (AMIMSA) e Watyamã – Organização das Mulheres Indígenas Sateré-Mawe. Além dessas três, também foram beneficiadas pelo projeto a Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM) e Associação de Mulheres Indígenas da Região do Alto Rio Negro (AMIARN).
O projeto “Parentas que Fazem” é realizado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com apoio do Google.org, e em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas – Makira-E’ta.
A toada faz referência direta ao projeto com o verso: “As parentas que fazem a arte que vem do coração da floresta e encanta os olhos do mundo”, reforçando o reconhecimento da iniciativa e das técnicas ancestrais, como a tecelagem com arumã e o artesanato com a fibra da palha do tucum, que é retirada com bastante dificuldade de árvores espinhosas como a do Tucumã e Buriti, que são frutos amazônicos.

A Numiã Kura, considerada a associação de mulheres indígenas mais antiga do Brasil, com 38 anos, é referência na produção de biojoias, bolsas e acessórios com tucum.
“Estamos imensamente felizes com essa honrosa indicação na toada do Garantido. O artesanato das mulheres indígenas merece cada vez mais reconhecimento e valorização, não apenas pela sua beleza e força cultural, mas também pelo profundo resgate histórico que representa”, comentou Maria Isabel de Oliveira da Silva, do povo Dessano.
Já a ASSAI, localizada no município de São Gabriel da Cachoeira (distante 852 km de Manaus), se destaca pela arte da tecelagem com arumã. A canção também valoriza os povos Sateré-Mawé, Baniwa, Hixkaryana, Yanomami, Tikuna e Kokama, destacando técnicas como cerâmica, cestaria, gravura, grafismo e outras formas tradicionais de expressão cultural.
Segundo Socorro Batalha, integrante da Comissão de Artes do Garantido, “o objetivo é mostrar, na arena, como esse saber ancestral é transmitido das mulheres mais velhas às mais novas, como o ofício das artesãs é repassado e como essas mulheres são protagonistas desse fazer.”
A toada ganha ainda mais força com a potente voz da cantora Márcia Siqueira, e se diferencia por incluir a participação de artesãs e representantes do povo Sateré-Mawé na gravação. Entre elas estão Moy Sateré-Mawé, reconhecida nacionalmente por sua liderança e atuação pela autonomia financeira das mulheres indígenas por meio da bioeconomia, além de Yará, Inara e Turí Sateré-Mawé.
Sobre o projeto ‘Parentas que Fazem’
A iniciativa realizou cinco oficinas de formação em empreendedorismo e promoveu troca de saberes com o estilista amazonense Maurício Duarte, conhecido por levar a moda amazônica ao cenário internacional. Ele conduziu oficinas na sede da AMIARN, na aldeia Yabi (povo Baré), em São Gabriel da Cachoeira, e de grafismo e tecelagem com tucum na sede da AMARN, em Manaus. Também participou de atividades em Tefé (523 km de Manaus), junto à AMIMSA.
Além disso, o “Parentas que Fazem”, mapeou 118 organizações de mulheres indígenas da Amazônia, com o objetivo de identificar atividades prioritárias para investimentos em sociobioeconomia, fortalecendo o protagonismo feminino indígena e suas formas de sustento.
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