Poliany Rodrigues; 31/01/2025 às 15:08

Síndrome de Burnout: a doença ocupacional invisível entre profissionais da comunicação

Precarização, jornadas intensas e prazos curtos colocam em risco a saúde mental na área

Arte: Mercadizar

No Janeiro Branco, mês dedicado à conscientização sobre saúde mental, a síndrome de burnout se destaca como uma preocupação crescente, especialmente entre profissionais da comunicação. Classificada como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2022, a síndrome causa esgotamento físico e mental e afeta cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt).

Em 2023, o Brasil registrou um recorde de 421 afastamentos por burnout, um aumento de 136% em relação a 2019, conforme dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Agora, com a inclusão do código QD85 na Classificação Internacional de Doenças (CID), trabalhadores diagnosticados com a síndrome têm os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários que outras doenças ocupacionais, incluindo o respaldo para afastamentos e aposentadorias pelo INSS.

O psicólogo Bernardo Veiga, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), explicou que o ambiente de trabalho neoliberal e focado em produtividade intensifica o adoecimento mental.

“Pressões desse modelo refletem diretamente nos profissionais da comunicação, submetidos a jornadas extenuantes, prazos impossíveis e um ambiente competitivo e tóxico”, afirmou.

A precarização do trabalho e a flexibilização de direitos agravaram o cenário, expondo profissionais da área a condições desgastantes. Além disso, fatores como a exposição constante a notícias negativas, assédio moral e sexual e a falta de segurança profissional aumentam os riscos da doença.

“A sociedade do cansaço, descrita pelo filósofo Byung-Chul Han, potencializa o esgotamento ao confundir tempo de lazer com tempo produtivo”, explicou Bernardo Veiga

Foto: Bernardo Veiga

Essa realidade foi vivenciada pela jornalista Luana Borba, que compartilhou sua experiência ao ser diagnosticada com burnout. Luana relembra o momento em que percebeu que algo estava errado:

“Foi no camarim, pouco antes de ir ao ar. Comecei a travar, e quando me dei conta, estava no chão. Não conseguia respirar nem me mover. Meu marido precisou me buscar, e só melhorei quando cheguei em casa”, relatou.

Após o diagnóstico, Luana precisou se afastar do trabalho e buscar apoio médico. Esse período foi essencial para que ela iniciasse terapia e começasse a redefinir suas prioridades.

“Aprendi que precisava me permitir folgar de verdade, sem ficar ligada na internet ou na TV. Esses momentos de desligamento foram fundamentais para que eu entendesse a importância de uma vida além do trabalho e conseguisse dar a tudo o peso certo”, destacou a jornalista.

A profissional também refletiu sobre as lições que tirou desse processo:

“A gente morre e o trabalho fica. Dedicação e comprometimento são importantes, mas o grande pulo do gato é o equilíbrio. Isso permite até mais resultados, porque você consegue ter mais discernimento e isenção para as tomadas de decisão”, finalizou.

Foto: Luana Borba

Saúde mental como prioridade

Enfrentar o burnout exige ações coordenadas. Bernardo Veiga sugere que empresas adotem políticas como horários flexíveis, pausas regulares e benefícios voltados ao bem-estar, como plantões psicoterapêuticos e acesso a academia. Para os indivíduos, práticas como exercícios, meditação e acompanhamento psicológico podem ser úteis.

Ainda assim, o psicólogo ressalta que “soluções efetivas passam por mudanças estruturais no mercado de trabalho que priorizem a saúde e os direitos dos trabalhadores”. Ele reforça a importância de uma cultura organizacional que valorize o equilíbrio e reduza a pressão por produção constante.

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