O Dia Internacional das Mulheres, celebrado em 8 de março, é uma data de reflexão e celebração sobre o papel da mulher na sociedade, especialmente aquelas que desafiam barreiras e abrem novos caminhos.

No coração da Amazônia, Cátia Santos, coordenadora de comunicação digital do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) conquistou uma importante vitória: foi aprovada no Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT), da Universidade de Brasília (UnB), um dos programas de pós-graduação mais disputados do país.
Nascida na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no Acre — a segunda maior do Brasil —, Cátia sempre soube que suas raízes moldavam sua identidade. Desde cedo, ouviu histórias sobre a luta dos seringueiros e o legado de Chico Mendes pela proteção da Floresta Amazônica. Isso não apenas a inspirou, mas também fortaleceu sua convicção de continuar essa luta.
“Tenho inspirações que me motivam todo dia a lutar e resistir. Primeiro, o lugar onde nasci. Segundo, a minha identidade: tenho orgulho de ser extrativista, crescer na Resex Chico Mendes, onde a luta pelos direitos dos povos tradicionais é reconhecida internacionalmente, me fez perceber que eu fazia parte de algo muito maior. Eu sabia que precisava dar continuidade a esse legado”, afirmou Cátia.
Seu compromisso com a causa continuou ao longo dos anos. Em 2022, foi homenageada com o Prêmio Chico Mendes de Resistência, na categoria “Destaque Jovem Extrativista”, durante a Semana Chico Mendes, realizada no Acre, por sua contribuição nas redes sociais. Além disso, no ano passado, foi uma das palestrantes da mesa que discutiu o tema “Etnojornalismo e o Papel dos Eco Comunicadores na Mídia Contemporânea”, promovida pela Cenarium no 19º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Desde a infância, porém, Cátia enfrentou dificuldades no acesso à educação. Graduada em Gestão Ambiental, precisou deixar seu território para concluir o Ensino Fundamental e Médio, uma realidade comum para jovens extrativistas e diferente da vivida por aqueles em regiões metropolitanas.
A oferta insuficiente de vagas em escolas, infraestrutura precária, internet limitada, calendário apertado e conteúdo programático desadaptado para as populações tradicionais são apenas alguns dos desafios enfrentados pelas Resexs amazônicas, o que torna a educação desigual para esses territórios.
Cátia reforça que o acesso a uma educação digna e de qualidade é uma demanda essencial para as populações extrativistas.
“Sair do território significa enfrentar a dificuldade de estar longe da família e do nosso modo de vida tradicional. A luta por uma educação de qualidade é essencial para garantir dignidade e igualdade para nossa população. Ainda hoje, muitos jovens extrativistas são obrigados a deixar seus territórios para acessar um direito básico. Nós queremos educação de qualidade dentro das Reservas Extrativistas do Brasil”, destacou.
Um novo tempo

No final de 2023, a UnB lançou o edital para a nova turma do MESPT, com um rigoroso processo seletivo que incluiu avaliação de memorial biográfico, pré-projeto de pesquisa, prova oral e teste de competência em leitura de Língua Estrangeira (Espanhol). Com dedicação, Cátia conquistou o primeiro lugar no grupo de Povos e Comunidades Tradicionais e aguarda ansiosamente o início das aulas, previsto para abril.
O interesse de Cátia pelo mestrado vai além da formação acadêmica. Para ela, o conhecimento é uma ferramenta essencial para fortalecer o movimento extrativista e ampliar a participação da juventude na luta por direitos.
“Durante minha trajetória, percebi que a luta pelos direitos dos povos extrativistas exige não apenas resistência, mas também uma base sólida de conhecimento. Acredito que o mestrado pode me proporcionar esse conhecimento, que é essencial para atuar de maneira mais eficaz, tanto na defesa dos nossos direitos quanto na busca por soluções mais justas para a nossa realidade”, comentou.
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