Poliany Rodrigues; 23/04/2025 às 15:59

Davi Kopenawa participou de evento histórico sobre educação indígena na Amazônia em Manaus

Encontro celebrou a defesa de dissertações de educadores Yanomami e marcou a participação inédita de Davi Kopenawa como arguidor em uma banca de mestrado na Ufam

O encontro “Davi Kopenawa: palavras de um xamã Yanomami”, contou com a presença inédita de uma das principais lideranças indígenas do Brasil. Davi Kopenawa, uma das principais vozes indígenas do país, é xamã, liderança política e presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY). Ele é reconhecido internacionalmente pela defesa dos direitos indígenas e pela proteção da floresta amazônica. 

Foto: Agência Brasil

A programação celebrou a defesa de três dissertações de educadores Yanomami e a inserção de saberes tradicionais no Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

O evento foi realizado na última terça-feira (22), no Auditório Eulálio Chaves, no Setor Sul da UFAM, localizado na Av. Gen. Rodrigo Octávio, nº 6.200, bairro Coroado I – Zona Leste de Manaus.

Segundo o coordenador do PPGSCA, Caio Augusto Teixeira Souto, o encontro representou um marco para a educação indígena na Amazônia. 

“Este evento representou um momento histórico para a comunidade acadêmica e para a sociedade amazonense. Pela primeira vez, o xamã e intelectual Davi Kopenawa Yanomami participou como arguidor em bancas de mestrado, ocupando formalmente essa posição em uma universidade”, comentou.

A banca contou ainda com outros professores especializados no assunto, incluindo o Dr. Paulo Roberto de Sousa, do povo Tremembé. 

“Essa composição reforçou o compromisso com a transversalidade, o diálogo entre saberes e a valorização da diversidade epistêmica”, complementou Souto.

Mestrandos indígenas e saberes tradicionais

Os três educadores que defenderam suas dissertações foram Odorico Xamatari Hayata Yanomami, Edinho Yanomami Yarimina Xamatari e Modesto Yanomami Xamatari Amaroko. Oriundos do município de Santa Isabel do Rio Negro (a 631 quilômetros de Manaus), no alto do Rio Negro, eles têm graduação pela Ufam em Licenciatura Indígena – Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável – Yanomami, além de atuarem como professores do ensino básico em dois dos Xaponos (casa coletiva Yanomami), localizados no Rio Marauiá. Em suas comunidades, exerceram uma forma de liderança, construindo pontes entre o saber tradicional e a formação escolar.

O ingresso no PPGSCA ocorreu em 2023, por meio de uma turma ofertada fora da sede, em São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros da capital). Com o apoio da UFAM, articulado à concessão de bolsas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), os mestrandos desenvolveram pesquisas focadas na ancestralidade de seu povo, abordando temas como música, cantorias, rituais xamânicos e ensino da língua materna Yanomami às crianças.

Souto reforçou que as pesquisas representaram uma forma de valorização, preservação e transmissão desses conhecimentos às próximas gerações. 

“Eles não quiseram mais se restringir às áreas tradicionalmente associadas às suas trajetórias, como antropologia ou pedagogia. Eles desejaram ocupar também a medicina, a geologia, as artes, a matemática, a linguística. E os programas interdisciplinares [de pós-graduação], como o Sociedade e Cultura na Amazônia, são caminhos fundamentais para essa travessia”, pontuou.

Sobre

O evento “Davi Kopenawa: palavras de um xamã Yanomami” é uma realização do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com apoio Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

 

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